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CHIMARREANDO e PENSANDO (poesia)

Chimarrão, bebida amarga,

larga um suave perfume,

largo dia que começa.

Que nada impeça o costume,

que nada peça outro querer

antes de te sorver por completo,

antes do amanhecer.

 

A lida pede passada,

apressada, antes da hora:

- Não quero muita demora,

te quero andando tropeiro,

ligeiro, sem trupicar!

- Larga essa cuia xirú!

- Larga essa vida largada!

- Termina logo o devaneio

e despede a madrugada!

 

Permaneço calado,

sorvendo o verde tranquílo.

É no pensar, a gritaria,

um alarido, estupidez,

falta de sensatez

de uma mente vazia.

 

Ansiedade inoportuna,

me atrapalha na fortuna

desse momento feliz.

A consciência me diz:

- Te acalma índio, tem tempo!

- O pensamento é agora,

o trabalho é lá fora.

 

Até que o raiar apareça,

permaneço matutando,

pensando em buscar a china

pra chimarrear na esquina

da vida que me espera;

sair dessa tapera larga,

que me amarga a solidão.

 

- Mas, e o trabalho, gaúcho?

- Te pucho pra fora do rancho,

nem que seja de arrasto.

- Pro pasto te levo a pique,

nem que fique contrariado.

 

Calma aí, vida sem dono!

Não tenho sono, replico,

hoje o descanço tem dia.

Vivo nesse fim de mundo,

solito, sem companhia,

a não ser essa guria,

a cuia amiga, que dança

entre as mãos e o pensamento

de achar a linda prenda

e lhe propor casamento.

 

- Tá certo tchê, hoje é domingo,

encilha o pingo e te vai!

- Vai procurar umas tranças

na vizinhança do fandango;

leva a viola também,

que te faz bem dedilhar.

- Quem sabe, numa trova ligeira,

fisga uma prenda faceira

que te queira no dançar.

 

E o mate termina.

Minha sina é direta.

Já, de pilcha completa

e um violão bem domado,

me estribo firme no versos

do arreio bem trançado.

Subo elegante no mouro

saio num trote empolgado

em busca do meu tesouro.

 

O meu tesouro, o que é?

É o casamento, vivente.

Depois de um mate bem quente,

uma alma pra contar.

Depois da lida pesada

uma amada pra encontrar.


(Yldo Gaúcho) 

 



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