Onça pintada, cheia de manha,
olho borrado, quase me arranha.
Pega na unha, a presa escapa,
ganha no tapa, pulo certeiro.
Jeito sagaz, assaz traiçoeiro,
corre e segura, pura destreza.
De natureza bela e selvagem
ela aprendeu a malandragem.
Olhar seguro, arte da guerra
quase não erra golpe no escuro.
Gata malvada, cheia de graça,
vem e me abraça antes que eu fuja.
Corro na chuva e entro no mato,
fico na espreita pra te emboscar.
Vou te domar pelo cansaço;
do embaraço pensa escapar.
Caço com calma, sangue na alma,
flecha no peito vou acertar.
Na emboscada da madrugada,
sonho contigo, durmo o perigo.
Onça fujona, sem direção
perdeste o norte da estação.
Perdeste o rumo, perdeste o tino,
não mais farejas o teu destino.
Pensas que o rio segue certeiro;
aventureiro, tenho cascatas,
corro nas matas, a serpentear.
Ganho no pulo, sou brasileiro;
nem que eu morra, pulo primeiro.
Caço tão bem, que bem te caço
queira ou não queira, cerco e abraço
Sem mais saída, na distração,
cai na armadilha do coração.
Fera ferida, fúria contida,
agora dorme na minha vida.
O tempo passa, nem lembra mais
que o caçador era sua caça.
Gata domada do meu país
deixou da briga pra ser feliz.
(Yldo Gaúcho)
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