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ONÇA PINTADA (poesia)

 

Onça pintada, cheia de manha,

olho borrado, quase me arranha.

Pega na unha, a presa escapa,

ganha no tapa, pulo certeiro.

 

Jeito sagaz, assaz traiçoeiro,

corre e segura, pura destreza.

De natureza bela e selvagem

ela aprendeu a malandragem.

 

Olhar seguro, arte da guerra

quase não erra golpe no escuro.

Gata malvada, cheia de graça,

vem e me abraça antes que eu fuja.

 

Corro na chuva e entro no mato,

fico na espreita pra te emboscar.

Vou te domar pelo cansaço;

do embaraço pensa escapar.

 

Caço com calma, sangue na alma,

flecha no peito vou acertar.

Na emboscada da madrugada,

sonho contigo, durmo o perigo.

 

Onça fujona, sem direção

perdeste o norte da estação.

Perdeste o rumo, perdeste o tino,

não mais farejas o teu destino.

Pensas que o rio segue certeiro;

aventureiro, tenho cascatas,

corro nas matas, a serpentear.

 

Ganho no pulo, sou brasileiro;

nem que eu morra, pulo primeiro.

Caço tão bem, que bem te caço

queira ou não queira, cerco e abraço

 

Sem mais saída, na distração,

cai na armadilha do coração.

Fera ferida, fúria contida,

agora dorme na minha vida.


O tempo passa, nem lembra mais

que o caçador era sua caça.

Gata domada do meu país

deixou da briga pra ser feliz.


(Yldo Gaúcho)

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